Por que colocar o celular atrás da cabeça faz a música 'abraçar' você?

  • 18/10/2025
(Foto: Reprodução)
Por que colocar o celular atrás da cabeça faz a música 'abraçar' você? As redes sociais estão repletas de trends e desafios que nos colocam em posições um tanto constrangedoras em público. Uma das mais recentes pede que você ouça determinada música com o celular na horizontal, posicionando-o atrás da cabeça ou abaixo do queixo. 📱E o efeito realmente faz o “mico” valer a pena: esses áudios dão uma impressão de espacialidade, de imersão, como se o som estivesse saindo de vários cantos diferentes ao seu redor. Desde 2020, vídeos com essas trilhas sonoras bombam nas redes sociais. Na última semana, a brincadeira ressurgiu após a jornalista Fernanda Gentil postá-la no Instagram e obter milhões de visualizações. 🎶O que justifica o efeito? Celular atrás da cabeça produz sensação 'espacial' ao reproduzir sons estéreo Reprodução/Redes sociais Para decifrar a sensação de “som em 360 graus”, é preciso começar pela anatomia. As orelhas, posicionadas de lados opostos da cabeça, captam o mesmo ruído com mínimas diferenças de tempo e de intensidade. Se você estiver dirigindo e ouvir a sirene da ambulância, vai saber para qual espelho retrovisor olhar primeiro: o direito ou o esquerdo. Assim como uma presa, andando distraída pela selva, conseguirá adivinhar de que lado vem o rugido do predador. Essas variações são processadas pelo cérebro, que as traduz em localização espacial. Se o estímulo chega primeiro à direita, a origem é identificada nesse lado. São diferenças mínimas, chamadas de ITD (Interaural Time Difference/diferença de tempo) e de ILD (Interaural Level Difference/diferença de intensidade), que permitem perceber de onde algo vem. Celular atrás da cabeça Arte/g1 Rodrigo de Marsillac, produtor musical da TV Globo, explica que o próprio formato da orelha ajuda nesse processo: “As dobras funcionam como filtros. Quando o som vem da frente, ele entra com uma filtragem de frequência; quando vem de trás, com outra. É isso que permite ao cérebro distinguir as direções.” Essas pistas auditivas formam imagens mentais que nos orientam no espaço. 🎧Que tipo de música permite esse efeito? Home Theater permite que o som saia de vários canais diferentes Divulgação Antes de entender exatamente o sentido de colocar o celular atrás da cabeça ou próximo ao queixo, é preciso saber que tipo de áudio está tocando nos vídeos virais. Vamos a uma retrospectiva musical para começar: os primeiros aparelhos de reprodução trabalhavam com um único canal. Todos os instrumentos e vozes saíam pelo mesmo alto-falante, sem profundidade. “Era um falante só reproduzindo tudo”, lembra o músico Hugo Calçada. “Quando passamos a ter duas fontes, pudemos distribuir melhor os elementos — voz de um lado, guitarra de outro. A partir daí, nasceu a sensação de espacialidade.” Foi a chegada do estéreo: ao distribuir sons entre canais esquerdo e direito, a música passou a ocupar um campo mais amplo, estimulando o cérebro a reconstruir a noção de profundidade. No cinema, a inovação foi além. O surround espalha caixas de som pela sala, criando a impressão de que o áudio vem de qualquer direção. “O home theater reproduz esse princípio do cinema: duas caixas na frente, duas atrás e uma central. Assim, você distingue se algo vem da esquerda, da direita ou de trás durante o filme”, explica Calçada. 📱Por que o truque do celular funciona? Celulares costumam ter saída de áudio também embaixo Marcelo Brandt/G1 A maioria dos celulares atuais tem dois alto-falantes: um na parte de cima, outro mais embaixo. Quando se posiciona o smartphone na horizontal — atrás da cabeça ou perto do queixo—, cada alto-falante fica voltado para um ouvido. Isso faz o som percorrer trajetórias diferentes até os canais auditivos. Lembra-se da explicação da ambulância ou do rugido do leão? O cérebro interpreta essa diferença mínima de recepção dos áudios e já a associa com localização/espacialidade. “Cada alto-falante projeta o áudio para um ouvido distinto, e essas diferenças de tempo e intensidade reforçam a sensação de envolvimento”, explica Thiago Abdalla, professor de produção musical e estúdio da Faculdade Santa Marcelina. Em outras palavras, o truque com o celular é uma simulação rudimentar do que aconteceria se estivéssemos de fone, por exemplo, ouvindo um áudio como os que viralizaram. O efeito é mais perceptível em músicas com grande riqueza estéreo, que exploram ambiências, reverberações e sobreposição de instrumentos. São essas que costumam aparecer nos vídeos da trend. “Produções de lo-fi, R&B contemporâneo, pop atmosférico ou trilhas cinematográficas costumam explorar não só o que é tocado, mas onde cada elemento habita no espaço sonoro”, acrescenta Abdalla. 🔊Como os produtores criam a sensação de espaço? O efeito imersivo pode nascer na gravação ou na mixagem. Durante a captação: Técnicas como XY, ORTF, Blumlein e Mid/Side gravam em dois canais para preservar diferenças entre os lados. O microfone chamado binaural usa “orelhas artificiais”, feitas de silicone ou borracha, separadas por um objeto que simula a nossa cabeça. Dessa forma, elas captam o áudio exatamente como o ser humano o perceberia. O áudio ambisônico é ainda mais avançado: grava o campo sonoro em todas as direções, sendo base para experiências de realidade virtual e formatos como Dolby Atmos. Na pós-produção: O engenheiro define a posição de cada som no espaço por meio de recursos da mesa de edição. Efeitos de reverberação estéreo e equalização dinâmica reforçam a noção de distância e de movimento. “Os softwares de edição permitem escolher quanto de cada instrumento vai para cada canal. O produtor decide se quer o cantor mais à esquerda ou o piano mais ao fundo — é isso que cria a imersão”, detalha Calçada. 🧠Conclusão: Ao posicionar o celular atrás da cabeça e sentir a música “abraçando” você, está experimentando um fenômeno psicoacústico — uma ilusão criada por diferenças de tempo, volume e frequência entre os lados direito e esquerdo. Ou seja: física, biologia e arte articuladas para enganar (com boas intenções) seu cérebro.

FONTE: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2025/10/18/por-que-colocar-o-celular-atras-da-cabeca-faz-a-musica-abracar-voce.ghtml


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